(Freire, Paulo. Pedagogia da esperança. Paz e Terra, 1992)
Para Paulo Freire, cidadão significa "indivíduo no gozo dos direitos civis e políticos de um Estado" e cidadania "tem que ver com a condição de cidadão, quer dizer, com o uso dos direitos e o direito de ter deveres de cidadão". É assim que ele entende "a alfabetização como formação da cidadania" e como "formadora da cidadania". (FREIRE, Paulo. Política e Educação, Cortez, 1993.) A práxis freireana trata a educação para além da sala de aula, relaciona-se a todo um contexto de opressão social e ausência de democracia. De maneira ampla e diversificada, suas idéias alcançam as áreas da economia, das ciências sociais, da física, da química, da psicologia, da política, entre outras. Trata, evidentemente, de construir a cidadania para cada um e para todos.
“Um desses sonhos para que lutar, sonho possível mas cuja concretização demanda coerência, valor, tenacidade, senso de justiça, força para brigar, de todas e de todos os que a ele se entreguem, é o sonho por um mundo menos feio, em que as desigualdades diminuam, em que as discriminações de raça, de sexo, de classe sejam sinais de vergonha e não de afirmação orgulhosa ou de lamentação puramente cavilosa. No fundo, é um sonho sem cuja realização a democracia de que tanto falamos, sobretudo hoje, é uma farsa.”
(FREIRE, Paulo. Política e Educação, 2001.)
É essa prática libertadora que chega como experiência inovadora à cidade de Angicos/RN, no início da década de 1960. No exílio, essa pedagogia avança para outros países, chegando a praticamente todos os continentes. Paulo Freire trabalha na África, Ásia, Europa e América (com exceção do Brasil), alfabetizando, politizando, conscientizando, indicando os caminhos para a libertação. A experiência africana, na década de 1970, onde camponeses, homens e mulheres trabalhadores, participaram de processos de alfabetização, em áreas de tensões e conflitos de classe, resultou na consolidação e reconhecimento do “método”. No continente africano, Freire esteve na Tanzânia, Guiné-Bissau, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Angola e Moçambique.
“A cidadania é uma invenção coletiva. Cidadania é uma forma de visão do mundo”.
(Paulo Freire)
Desde os seus primeiros passos na prática pedagógica, Paulo Freire optou por uma pedagogia política centrada na liberdade e na autonomia do ser, propondo a politização da educação.
Ao avaliar que o processo do conhecimento acontece quando o indivíduo, ao se reconhecer humano, é estimulado a refletir sobre os seus problemas na vida cotidiana, o trabalho pedagógico político de Paulo Freire movimenta-se para o homem excluído das ações políticas, julgado,pelos poderosos como incapaz de definir sua existência.
Aliando educação e política, fazendo-as caminhar juntas no seu trabalho de acompanhamento pedagógico de homens e mulheres iletrados, em várias partes do mundo, Paulo Freire os motivou à reconquista dos seus direitos e da sua voz, via apropriação da palavra, da leitura e da escrita. Ler o mundo, lendo a palavra, surge como esperança possível para homens e mulheres de redescobrir seus próprios valores e encontrarem-se com seus semelhantes em busca de libertação das forças que os oprimem. Educação e Política, na concepção freireana, apontam sempre na direção de um ser pleno de cidadania, capaz de assumir para si o comando dos seus processos de existência liberta e progressista.
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