EDUCAÇÃO QUE NÃO ENSINA
Em nosso cotidiano, o uso da língua ocorre por meio de interações verbais face a face sem restrições de contexto, condições, formas e interesses. Diariamente, empregamos a língua nas mais distintas situações e adquirimos experiências variadas, participando de atividades em que alcançamos o sucesso pretendido ou o insucesso indesejável. Contudo, todo usuário da língua sabe como iniciar, desenvolver e encerrar uma conversação; sabe introduzir, manter ou mudar o tópico discursivo; sabe dizer algo explicita ou implicitamente; sabe sugerir ou evidenciar uma idéia. Portanto, podemos concluir que todo indivíduo sabe a diferença entre fazer um elogio, um pedido ou uma ordem, pois tem noção de que há diferenças não só de ato de fala, mas distintas relações de poder. Segundo Marcuschi (1988:2), os falantes têm noção de que não é simples lidar com todo esse saber.
Partindo da análise do texto, observas-se a concepção de que saber língua é saber a sua gramática em situação de uso são enfocadas separadamente, mostrando que estas estão bem distantes das práticas nas sala de aula.
Em se tratando da gramática do texto/discurso, para Charolles (1987, apud Koch e Travaglia, 2000:44), esta tem natureza cognitivo-pragmática, a qual não possui a função de formular regras que definam:
‘[...] a boa ou a má formação do texto, mas busca representar os processos de tratamento e retratamento postos em ação pelos sujeitos, quando interpretam os dados textuais e que normalmente obedecem a restrições que levam em conta certas determinações psicológicas. .
Dentro desse prisma, fica evidente a importância do estudo da coerência, a qual é vista como um princípio de interpretabilidade do texto, sendo o seu estabelecimento dependente de elementos lingüísticos e do contexto lingüístico, do conhecimento de mundo, de fatores pragmáticos e interacionais.
Então, o texto é o ponto de partida e o ponto de chegada durante o trabalho em classe, e para analisá-lo, é importante salientar que se adotará a concepção de leitura apontada nos Parâmetros Curriculares Nacionais (Brasil, 1997:53), segundo a qual “A leitura é um processo pelo qual o leitor realiza um trabalho ativo de construção do significado do texto, a partir dos seus objetivos, do seu conhecimento sobre o assunto, sobre o autor, de tudo o que sabe sobre a língua”.
O processo de leitura e de análise lingüística proposto pelo texto alegres e ignorantes será realizado segundo uma divisão meramente didática e obedecerá às etapas de pré-leitura; leitura, e pós-leitura do mesmo. Nesse sentido, a etapa de pré-leitura consiste em uma atividade incentivada e acionada antes do início da leitura propriamente dita. Ela está ligada à teoria de esquemas, que aciona o conhecimento prévio do leitor e permite criar hipóteses sobre o conteúdo do texto, traçando uma ponte entre o texto a ser lido e o conhecimento histórico-cultural do leitor, essenciais ao processo de construção do significado do texto (Tagliaber & Pereira, 1997).
Já a etapa de leitura refere-se ao contato do indivíduo com o texto propriamente dito. Esta pode realizar-se em voz alta, silenciosamente ou de forma colaborativa. Solé (1998) considera a leitura compartilhada a mais eficaz, pois ensina estratégias que os alunos podem utilizar sozinhos.
A última etapa, a de pós-leitura, trata das atividades realizadas após a leitura, com o objetivo de tornar explícitos os conhecimentos constituídos implicitamente por meio da leitura. Para tanto, recorrer-se-á ao processo psicolingüístico de leitura, a partir de atividades de decodificação, compreensão e interpretação do texto.
Dessa forma, apresentar-se-á uma proposta de leitura e de análise lingüística para o texto, o qual mostra que a Ignorância também é vício. A escolha dá-se em função de o assunto do texto não ser desconhecido aos alunos, fazendo parte de seu contexto sociocultural, o que proporciona maior envolvimento na atividade.
O texto alegres e ignorante, refere-se à ignorância não só gerada pela pobreza, do povo brasileiro, mas põe em ênfase a ignorância daqueles que leem, estudam e ainda assim continuam ignorantes diante do próprio conhecimento adquirido por longos anos de graduação. Mas é bom levar em consideração que as atividades de leitura do texto privilegiarão o trabalho tanto com a análise lingüística, contemplando aspectos relevantes da gramática textual (coesão textual) e da gramática da frase (uso recorrente da voz passiva), como também com a prática reflexiva de leitura, buscando associar o título do texto ao ponto de vista expresso pelo autor. Propondo discutir esse ponto de vista, ora validando-o ora questionando-o por meio de diferentes visões, obtidas no contexto do texto.
EDUCAÇÃO QUE NÃO ENSINA, MAS ALIENA.
A ignorância é um dos principais problemas da população brasileira. Pessoas são ludibriadas pelo simples fato de não terem a informação necessária para saber no mínimo quais os seus direitos. Será que estamos aprendendo e ensinando ou estamos fingindo que aprendemos e que ensinamos? O processo educacional, por sua vez, deve ser um plano para a vida toda; e assim tem que ser, pois sabedoria não é algo que se consiga em uns poucos anos de escola. Em verdade, a escola por si só não é condição suficiente para fazer de alguém um sábio; é preciso estudo constante, reflexão, observação. A educação pouco praticada, não leva à formação mais completa do estudante e do cidadão, faz-se necessário preparar o indivíduo para interagir com as informações esparsas e construir seu conhecimento de mundo. Apesar dessa constatação, nossa escola (e não nos limitemos aos níveis básicos, estamos falando também do ensino superior) continua tentando formar seus alunos como se ainda estivéssemos no século passado e não no limiar de uma nova era. Ensinando fatos e cobrando sua memorização, fazendo assim que a escola esqueça seu principal papel: o de ensinar a aprender; se construção a das relações críticas entre os diversos fenômenos, e a vida em sociedade.O indivíduo deve ser sabedor da existência de determinadas informações e de onde se localizam para que, no momento adequado, as acesse. Nesse sentido, é papel importante da escola criar ambientes de aprendizagem fundamentados na pesquisa, enquanto busca e avaliação de informações.
Neste exercício de repensar a educação é importante não cair nas armadilhas da "ditadura dos conteúdos"; Mais vale um aluno entender bem e profundamente uma pequena parcela do que é proposto do que não entender nada. Mais vale aprender menos conteúdos mas aprender a ter prazer com o uso do intelecto, a apreciar a pesquisa, e descobrir as demais informações, ao invés de ouvir sobre muitas coisa e não aprender sobre as mesmas. Há que transformar a sala de aula num ambiente interativo facilitador da aprendizagem que leve o indivíduo a não só adquirir conhecimentos, mas também reconhecer que a utilidade do conhecimento e a sua aplicação mais importante está fora da sala de aula, a habilidade de pensar criticamente pouco valor tem se não for exercitada no dia-a-dia das situações da vida real. Tudo isto não ocorre espontaneamente, e aí entra o papel do professor, encorajando os alunos a fazerem conexões com eventos externos ao mundo da simulação, descobrindo a ligação entre a situação vivida e os conteúdos curriculares.
Diante da totalidade dos desafios e das incertezas do tempo atual, que evidenciam uma desestabilização dos aspectos da educação como agente de transformação e reflexão do conhecimento, acredita-se que só com a ressignificação da mesma como fenômeno social complexo e a adoção de uma postura crítico-reflexivo pode-se conseguir adquirir uma verdadeira educação que ensina e não aliena, deixando ou seus usuário alegres e conscientes de seu conhecimento e não mais alegres e ignorantes diante do saber.
Para tanto, torna-se necessário (re)investir sempre na abrangência da formação profissional cujos aportes considerem a importância da formação teórica, não como condição da prática, mas de reflexão sobre a prática (Libâneo, 2000); a dupla conotação da prática como ação ética orientada para fins e como atividade instrumental adequada a situações; a cultura crítica como inerente à reflexão/refletividade, por meio das quais o profissional possa (re)incorporar, (re)exercitar e aprimorar as mesmas competências (Perrenoud, 2000, 1999) que pretende desenvolver em seus educandos.
REFERÊNCIAS:
• BRASIL. Parâmetros curriculares nacionais do Ensino Médio: Linguagens e Códigos. Secretaria de Educação Fundamental. Brasília. Secretaria de Ensino Médio, 1997.
• MARCUSCHI. Luiz Antônio.Oralidade e Ensino de Língua: uma questão pouco “falada”. 1988:2
• TAGLIABER, L. K. ; PEREIRA, C. M. Gragoatá. Atividades pré-leitura. (92): 73-92, 1997.
• SOLÉ, Isabel. Estratégias de leitura. Porto Alegre, RS.: ArtMed,1998.
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